Manlio MORETTO (1917 - ...)


N
asceu em São Paulo, em 1917. “O momento que mais me emociona na pintura, é quando coloco as figuras povoando a paisagem”.

Autodidata, quando criança, no curso primário, sua professora pede-lhe que desenhe o mapa do Brasil, quando vê a perfeição do trabalho, recusa-se a admitir sua originalidade, atribuindo-lhe nota zero, com a justificativa de que se tratava de um decalque. Enquanto cursa Engenharia Civil, na Escola Politécnica da U.S.P., conhece Edgard Oehlmeyer, que namorava Renata, com quem viria a casar. Renata tinha como sua melhor amiga e colega de trabalho aquela que viria a ser cunhada da então namorada de Manlio, também chamada Renata. Pouco tempo depois, Manlio casa com Renata. Manlio e Edgard, logo se tornam amigos! Ambos compartilhavam dos mesmos ideais de vida e, principalmente, tinham a mesma paixão pela Arte. Manlio mal podia imaginar que se tornara amigo de um dos maiores pintores brasileiro de todos os tempos!... Mas, voltando um pouco para trás; é neste período da vida de Manlio, que surge sua vocação de pintor. Edgard e Manlio passam a viajar juntos pelo Brasil, sobretudo para lugares históricos e bucólicos. Fascinados pela paisagem, Manlio usa a máquina fotográfica, e Edgard, as tintas e os pincéis. Os ângulos das fotos e a sensibilidade artística de Manlio, não passam despercebidos por Edgard, que logo o convence a desenhar! E, assim, vão empreendendo várias viagens, só que desta vez, como colegas pintores. No final do dia, invariavelmente, passam horas a fio trocando impressões sobre o que haviam pintado durante o dia. Edgard morre, precocemente, e Manlio continua viajando pelo Brasil à procura de novas paisagens, continuando na memória o trabalho que seu amigo deixara por terminar. No campo, Manlio preenche cerca de 50 cadernos que registram em croquis toda a sua obra e, portanto, o Brasil de lés-a-lés. As nuances das poucas cores que usa - sempre quentes; traduzidas pela aquarela evidenciam musgos, marrons, cinzas e azuis extremamente sutis, preenchendo composições surpreendentes. Os céus e a paisagem, propriamente dita, se mesclam em perfeita harmonia, sem contrastes divisórios, como se um fosse a continuação do outro!...

Quando é possível sentir-se, até o “cheiro” do lugar retratado, a imaginação percorre o tempo e descobre o passado, perpetuando-se na memória aquele momento de singular magia. Em Salvador, quando Manlio procurava um ângulo diferente, depara-se com uma rua que lhe propiciava a visão da Igreja da Santíssima Trindade, vista por trás, com os campanários projetados na praia, e no mar mais adiante. Na linha do horizonte, entre o mar e o céu, a Ilha de Itaparica. Do lado direito da Igreja, avista-se um imenso casario que vai perdendo definição à medida que evoluem as sucessões de plano. A projeção da Igreja, mar adentro envolve uma arrebatadora emoção de encanto e mistério!...Trata-se, provavelmente, de uma das melhores paisagens de Manlio, agraciada com a Medalha de Prata do Salão Paulista de Belas Artes.

Durante, quase meio século, Manlio registra cerca de 1000 paisagens inéditas, distribuídas por 15 estados e 110 cidades brasileiras. Não raro, é confundido com Debret ou Rugendas, porém, em nada se assemelha a estes. Manlio, não procura retratar fidedignamente, lugares, costumes ou gentes, mas sim, registrar uma interpretação pessoal da paisagem, integrando-a num ambiente de paz e harmonia, favorável à vida simples e feliz, que existe ou que poderia existir!
Nonagenário, olha para trás, e revê quase que todo o Brasil bucólico por ele pintado.

 

 


 
   

 

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